Eu conheci lâm’na azul Na fazenda do Ipanema Filho de raça turina De ser bravo trouxe a sina Calda grossa e ponta fina E os cascos da cor de gema Lajeiro e ponta de pedra Para ele era uma festa Bem feito igualmente um pombo Corria não dava um tombo Tinha um cruzeiro no lombo E um sete estrelas na testa Manuca do Ipanema Chamou os vaqueiro do sul Do cariri do sertão Veio vaqueiro campeão Mas nenhum passou a mão Na calda de lâm'na Vaqueiros de toda parte Por ali se reunia Mas não dava resultado Correu vaqueiro assombrado Morreu cavalo enganchado Mais lâm’na azul não caia Do Pernambuco afamado Veio mais de um vaqueiro esperto Do Rio Grande do Norte Vaqueiro enfrentou a morte Cansou mas não teve a sorte De chegar nele nem perto Apareceu um negrão Parecendo um capataz Com dois metros de altura Botas brancas roupa escura Ou era o diabo em figura Ou parecia demais O cavalo do negrão Era retinto também Passou a noite amarrado Perto do curral do gado E o negrão em pé de um lado Sem conversar com ninguém As quatro da madrugada A turma já ‘stava em pé Do pátio para os currais Tinha vaqueiro demais Foram ver os animais Celar e tomar café Uns comeu cuscuz com leite Outros queijo e carne assada Uns queriam café quente Outros tomavam aguardente Se alimentou muita gente E só o negrão não quis nada Os vaqueiros da fazenda João Belo e José Maria Dom Vital ia na frente Andando apressadamente Pras bandas do oriente Onde lâm’na azul dormia Quando chegaram na frente José Maria gritou La vai lâm’na azul correndo Viram o negrão se benzendo E o cavalo parecendo Que o furacão empurrou Aí todos avançaram Por onde foi o negrão Que foi deixando a esteira De favela e catingueira Mororó e aroeira E galhas de angico no chão Ainda foram arrastando Cercas de arrame que havia Saltando riacho cheio Rasgando a mata no meio E o negrão gritando feio Que até a mata tremia Na frente a uma meia légua O boi já ‘stava amarrado E o negrão sujo de lama Montou e entrou na rama Lâm’na perdeu a fama E o negrão assumiu o prado Depois do boi na fazenda Deram fé de dois sinais Mais um letreiro de um lado Que o negrão tinha deixado Dizendo: Estou apressado E adeus até nunca mais