Eu sei que tem muita gente Pensando talvez que me humilha Que vive me criticando Dizendo até que é desmazelo Que eu ando fora da moda Porque não corto meu cabelo Mas não me sinto humilhada Em usar minha trancinha Eu fico até orgulhosa Quando me chamam de caboclinha Tenho orgulho em ser cabocla Em ser filha de roceiro Pois pra fazer uma cidade Tem que ir na roça primeiro Da roça que vem as pedras Vem os carros de madeira Pra construir as belezas Das cidades brasileiras E todos esses confortos Que nossas cidades têm Isso eu falo com franqueza Vocês podem ter certeza Que veio da roça também Da roça que vem o leite Que ajuda a criar as criancinhas Vem a carne, vem peixe O arroz, o feijão E tudo que é necessário Pra criar um cidadão Andando pela cidade Em cada passo eu vejo Que quase tudo foi passado Pela mão do sertanejo Olhando fico lembrando O meu pai, o meu irmão Que tem as mãos calejadas De trabalhar no sertão Veja os bancos da escola A régua do professor Tudo isso foi passado Pela mão do lavrador Pra construir ginásios Faculdades, seminários Olha, pra encurtar o caso Desde as pedras do chão Até a torre de uma igreja Teve a colaboração Da mão sertaneja E por isso que me orgulho Quando me chamam de caboclinha E se a gente é quem faz a moda A minha moda é usar trancinhas E vivo muito contente Por ser caipira e brasileira E quem é culto e inteligente Não me critica por ser roceira Sou casada, tenho três filhos E pelo menos um a de ser doutor Mas a todos eles quero ensinar A respeitar nosso lavrador