A um brete, o presídio é igual Costeando tourada alçada Cada osco, aspa virada Com fala no "pajonal" Na grade, aquele zum-zum Índio, branco, ruivo, e algum mais retinto Que, poliango, presos por simples fandango Culpado mesmo, nenhum Na sua lógica bronca, esta prisão já demora Porque há tantos lá por fora, bons tentos da mesma lonca Por que, metidos no ajojo, se os outros bebem o apojo Da liberdade sem freio Aqui, em ronda e pastoreio, até entristece e dá nojo O que matou, peito a peito, nenhum remorso denigre Foi peleando, como um tigre, se vendo daquele jeito E aquele ali, contrafeito, mulato, a barba caprina No próprio olhar se condena Não ví que ele cumpre a pena pela degola da china! E o quietarrão? Sempre calado! Carão fechado de cumba, mais sério que catatumba É o preso que menos fala, maneado nos pensamentos Lembra a madrugada fria, em que, na cama de tentos Com quatro gritos por prosa Ao gauchão que o traça, e a dona que ele queria Matou com raiva gostosa E os três ladrões de cavalo, que estampas de gauchões! Indo em curtos intervalos, do extremo sul às missões Floriando os pingos alheios, das tropilhas das estâncias Têm no peito, em corcoveios, as ganas de um coxilhão De ir esbanjando as ganâncias, comemorando as distâncias Com tragos de um borrachão Mas este, ladrão de vaca, é mais humilde que os outros! Com fama em lombo de potros, e mais cantor que baitaca Um dia, caiu no roubo Por proeza de moço bobo, pelo prazer da aventura Cada campereada rara, peleando com a lua clara Laçando com a noite escura Absolvido, este, agora que o promotor apelou Supõe que já colocou um pé do lado de fora E o seu planito compús Já se imagina, contente, suando, livre, ao sol quente Numa lavoura de arroz E este aqui?! Olhos de cobra, papo de sapo Batendo com os trinta anos, se vendo, e mais uns meses de sobra Campeão dos mais altos pontos De um rancor frio, e desalmado A um pai de família honrado Matou no mais, por dez contos! O índio com cara de fome, com a bombacha no espinhaço Com fama de bom no laço, e uns "diz ques" de lobisomem Entrando os campos por mel, de noite, em desassossegos Co'a as pulgas nos pelegos, de ovelhas do coronel E o que fez "pango" em velório, de canha, como uma brasa E o outro, o mais grave assunto Feriu o dono da casa, matou de novo o defunto Pois declarou ao perito que era um doutor calabrês Se vivo fosse o defunto, lá se ía de pé junto Porque morria outra vez E aquele alto, gadelhudo, com perfil de gavião mouro Foi sempre tido por touro, por vaus, por bolicho ou cancha Num bochincho dos coiceiros, lanhou chinas e povoeiros Com a adaga dada de prancha E o criolito ligeiro, mesquinho de um safanão! Bueno pra encher chimarrão, ou recolher no potreiro No balcão do bolicheiro se meteu numa enrascada Numa noite sonhadora Com senha......., Dez latas de goiabada Aguardando a apelação, esse ali sempre risão Seu júri foi de alegria, todo mundo meio ria Só o Meritíssimo não E o defensor, buenachão, com um timbre de garganta Provou que o crime, era nada! Tosou toda a matungada que havia numa bailante! Dá uma piedade tremenda olhar tanto índio em castigo Cavacos, de cerne antigo, que escorou em paz e contenda Da Pátria, a posse tranqüila Por algo, se vieram vindo De tombo em tombo caindo Até o presídio da vila!