Eu nunca vi um cavalo Galinha, cabrito, gado Qualquer outro animal Nesta rua abandonado No entanto aí vem um bicho Andando entre os automóveis Sem que ninguém o olhe Nos grandes olhos imóveis Ninguém lhe dá de comer Nem o leva a passear Ninguém lhe lava os pelos Ninguém o quer afagar Como se afaga um cão Ou se joga milho aos pombos Tem dois olhos, duas mãos E às vezes no peito um rombo Tem dois olhos, duas mãos Pode escrever a Ilíada Pode sentir saudade Pode ganhar olimpíada Pode morrer na cruz Pode até pisar na lua, Dentro dele mora a luz Igual a minha e a tua É mais que um mico-leão Bem maior que uma baleia Nele habita o sim e o não Nele uma luz se ateia Luz humana que incendeia Não que ilumina seu sonho Em um súbito se ateia Um sentimento medonho Sentimento que clareia Seus grandes olhos imóveis Terrível dor que passeia Na noite entre os automóveis Oh oh oh! o bicho nas ruas Oh oh oh! o bicho nas ruas Oh oh oh! o bicho nas ruas Oh oh oh! O bicho nas ruas