Se um passarinho for bicar teu sono saibas que sou eu Sou eu aurora boreal pousando em seus trigais E se uma estrela encandecesse no breu dos teus breus Hás de saber então das trevas que me são mortais Ei de vergar-me então como os mais reles dos plebeus Para dizer-te o quanto o meu amor é tão ateu e herege como os farizeus Que um dia Cristo expulsou do templo sem lhes dar perdão Chicoteando, escorraçando aqueles vendilhões E eu me sinto tal igual um porco e vil pagão Que nem provou da hóstia o vinho em santa comunhão Mas que roubou sem dó as cordas do teu coração E encordou com elas sua enorme solidão.