No chão duro de um caminho Como o tempo o tempo escreveu A canção de uma estrada Onde a própria estrada sou eu Sou eu quem rasgo as montanhas E passo por cima dos rios Sou perigosa na serra Junto as sombras dos vales sombrios Estrada, sou estrada Estrada, sou estrada Crianças de férias que passam Sobre mim, acenando as mãozinhas Não sei o que é solidão Não fico um minuto sozinha Pneus me apertam a ventre Mas o peso é questão de segundos Na carga pesada vão indo Alimentos pros canto do mundo Estrada, sou estrada Estrada, sou estrada Eu passo beirando casebres Eu passo beirando mansões Sobre mim passa tropa e boiada Quando estou nos confins dos sertões O progresso trajou-me de preto No calor o meu corpo evapora Tenho ainda uns pedaços de terra Boa parte do corpo de fora Estrada, sou estrada Estrada, sou estrada Eu sou irmã gêmea do homem Eu sou igual uma vida Sou cheia de retas e curvas Planícies, subidas e descidas O homem que faz eu nascer E me cuida do começo ao fim Mas quando o homem então morre Mesmo morto ele passa por mim Estrada, sou estrada