Por muitos anos a fio fui carreteiro, Velha carreta foi sempre minha morada, Com um pingo e um cusco companheiro Sovei juntas de bois pelas estradas. Bois da ponta, bois do coice e uns tambeiros Que, na quarta, acompanhavam o passo lento E os bois mansos, veteranos, estradeiros, Todos temiam a picana em movimento. Cangas, canzis, ajoujos, brochas, tiradeiras, Eu os repasso tantas vezes na memória E o muchacho, que riscou serra e fronteira, Não conseguiu escrever nossas histórias. Trempe, panela, charquezito pendurado E o corote cheio sempre de água pura, Chiculateira e uns tições bem apagados, Canha na mala e a garrucha na cintura. Tenho saudade do tempo que eu carreteava Pois na lembrança está gravado muito bem, A minha vida, como a erva que eu buscava, Não tinha o gosto tão amargo que hoje tem. Anos passaram e meus cabelos branquearam, Como tolda apodrecida de capim: Só uma junta de saudades me deixaram Para que eu fique a carretear meu próprio fim.