Sinhá na rede dormindo Duas mucamas ao lado Cena de um tempo passado Que outro poeta escreveu Em meio ao sono a senhora Vai toda se amolengando Está, por certo, sonhando Com certo alguém que sou eu Eu não sou ralador Para o coco ralar Não sou de salvador Nem belém do pará Meu claro senhor Olhe sua sinhá Ta me olhando com dengo Para me enfeitiçar Calma de flor de laranja Pele de manga madura Gostinho bom de verdura Fonte fazendo chuá Voz de viola chorando Olhos como a estrela d'alva Restos de origem fidalga Eis o perfil da sinhá Eu não sou ralador Para o coco ralar Não sou de salvador Nem belém do pará Meu claro senhor Olhe sua sinhá Ta me olhando com dengo Para me enfeitiçar Não por ser branca e senhora Mas por ser boa e bonita É que a senhora me agita Faz-me a viola chorar Claro senhor, não se atreva Que eu tenho cá meus motivos Eu só me faço cativo Se for pra sua sinhá Eu não sou ralador Para o coco ralar Não sou de salvador Nem belém do pará Meu claro senhor Olhe sua sinhá Ta me olhando com dengo Para me enfeitiçar