Eu nasci da meia noite, dos troncos de açoite De cada um que foi te servir atrás de uma foice Eu voltei pra te assombrar, por cada chicotada Por cada chibatada que levei a troco de nada Em nome de quem já se foi, de quem ainda se vai De quem voltou e nem sabe o que o mundo vai reservar Em nome de quem já sofreu por ser quem é Foi teu sangue que me fez o que eu sou, então deixa eu me apresentar Sou o corpo invadido e ferido sem pedir lisença Eu sou o moleque esquecido que se incomodam com a presença Macumbeiro julgado e mal olhado que pagou sentença Eu sou o ateu internado e condenado pela própria crença Eu sou quem não escolheu por gênero quem compartilho afeto E chamam de doença, então eu sou a doença E vim pra adoecer quem nos arremessa esse veneno Disfarçado de ofensa, e a dor vai ser imensa A gente sempre pensa que tudo que nos difere É cor de pele e assim nunca finda o ciclo que a gente encara Mas já passou da hora de compensar o que nos fere E se a dor se acumulou não vai voltar silenciosa, então prepara Minha alma só quis paz, vida e mais nada Se vier me privar é o terror Pra gente sobrou fé e ser ordenada Por raça, tipo, credo e cor Pra nossa existência hoje não dão nada E a herança chegou até aqui Te vi distorcer a história ao ser contada Mas foi dos fatos que eu nasci Eu nasci da tua desgraça, de quem me fez de caça De quem humilhou minha raça e se esconde atrás de uma farsa Eu voltei pra me vingar, por quem hoje é a massa Por quem sofre de graça e já independe do que faça A gente sempre embaça a visão pro que no infringe, o povo finge E assim nunca finda o ciclo que a gente passa Mas já passou da hora de revidar o que me atinge E se a história não vingou, deixa com a gente que essa ordem se estilhaça Eu sou fumaça que sinaliza o terror Invocada por fogueira e inalada pelo torturador E não vai ter perdão pela bruxa queimada, pela criança estuprada Pela cultura roubada e por cada migalha de nós que foi junto com o orgulho que o tempo levou Minha alma só quis paz, vida e mais nada Se vier me privar é o terror Pra gente sobrou fé e ser ordenada Por raça, tipo, credo e cor Pra nossa existência hoje não dão nada E a herança chegou até aqui Te vi distorcer a história ao ser contada Mas foi dos fatos que eu nasci Eu nasci da meia noite, dos troncos de açoite De cada um que foi te servir atrás de uma foice Eu voltei pra te assombrar, por cada chicotada Por cada chibatada que levei a troco de nada Eu nasci da tua desgraça, de quem me fez de caça De quem humilhou minha raça e se esconde atrás de uma farsa Eu voltei pra me vingar, por quem hoje é a massa Por quem sofre de graça e já independe do que faça