5 da matina, o dia já começa De novo atrasado, de novo com pressa Esse é o João, zelador do prédio Trabalha dez horas, brasileiro médio Mas eu também, memo busão, memo motô Vou atrás do meu corre Chego no trampo e meu patrão Entrega o relatório ou o couro come Uma hora de almoço, eu sei que é pouco Tem gente com menos, por isso nem falo O frango tá quente, o arroz tá quente Mas como sempre, o feijão tá gelado Voltando do trampo, duas horas por dia Me sinto sardinha, todos enlatados Mas eu não reclamo, tem o meu primo Mais de dois anos tá desempregado E no celular, um moleque de 15 que fez um milhão Só no último mês, te faz sentir culpa pelo que cê é E cê se pergunta: Por que cê não fez? E quando deito, eu penso: Por que eu não venço? Como já tamo em dezembro? Como eu arranjo mais tempo Perdendo o sono com perguntas Que amanhã já não lembro Sempre sem tempo, sempre com sono Sempre contente na frente do dono Mas tudo bem, trampei tanto esse ano Sei disso porque ele tá de carro novo Acordo segunda, quero ser o primeiro Não dura um segundo, o décimo terceiro Já vendi minhas férias, paguei minhas parcelas E me cobram com juros, por ser brasileiro Minha vida é meu tempo e tempo é dinheiro Eu não tenho um, o outro nem se fala Mas por aqui, dinheiro é tudo, e aparentemente minha vida é nada E quando deito, eu penso Por que eu não venço? Como já tamo em dezembro? Como eu arranjo mais tempo Perdendo o sono com perguntas que amanhã Já não lembro