Ontem as vinte e duas horas e quarenta minutos Horário oficial de Brasília Eu estava ardendo em febre, suando. E na tiragem dos meus uis, contados Uns vinte e tantos mil, falei, quietei Aos teus ouvidos. E de febril, de puro amor, o meu remédio Tomei por tantas horas, em tantos goles Que me embriaguei. Caí sobre o teu corpo E amando-te voluptuoso, transpirei E a febre não passava, passavam as horas Já pela madrugada, ainda eu te amava. E pela manhã, à hora da voz do Brasil Eu te amava. Em meu delírio, uma poldra branca De crinas alvas e esvoaçantes Carregava-me sobre seu dorso. E eu galopei vinte e quatro horas Sobre um leito de areia fina. E nas esquinas por onde andei Espantava-me o medo, de cair Por tua cabeça, Quando te inclinavas a me beijar Fazendo. Aproximadamente Um tempo impreciso e gigantesco Sem que o espólio se passasse. Eu na tua crina seguro, E tu em meus flancos grudada. Amar faz a gente ganhar a medida do tempo, E se tem ciência dos espaços E não se perde o tempo, se acha, Mesmo que estando no silêncio mais escuro, Como eram as grutas por onde passamos, E vimos dentro animais atônitos, Encontrávamos-nos, Permitíamos-nos Como os ponteiros dos relógios, Ora encima, ora embaixo, Ora não se distingue o prazer do bom, Quão bom é o prazer das horas.