Ave branca, esta manhã, Com as estrelas liquefeitas Em outra luz de outra luz Uma saudade que vem Da nascente das estações O trem da vida espreita, De braços abertos e peito, Em sacudidos gestos. Assentos se movem Move-se a luz de outra luz, Transporto-me à estrada No seu começo E venho louco e não distingo A beira, as cercas, os milharais Passam azuis, E a esperança verde passa, por mim. Como água serena na areia, A solidão está aqui, Comigo e ela, comigo Gasto os sapatos, um freio brusco, Paro e sento sobre o trilho solto Ave cinza, esta tarde, Já tarde demais, quase noite, As estrelas se compactam, E enchem o meu peito de saudade. Saudade deste dia corredio, Da esperança fugidia, Com quem dividi todo o tempo de hoje Bancos rijos, nenhum sacolejo, Ninguém anuncia, esbravejo. Maldito dia que não trouxe tudo, Trouxe-me o nada, O nada, vazio, Um trem de vagões batendo, Uma viagem que eu fiz, Na ida, E era à volta a minha esperança. Saíram das formas todas as estrelas, Pepitas, na mesma forma de prometer, Amanhã, líquido quente, Uma luz da mesma luz inquietante, Fica o meu coração na estação, E eu vou sem ele, fugir Dessas visões de quem não vê, Só sente, levanta, senta, sente.