Se a vida se obtém com a morte Por enquanto aqui na terra Somos vivos que não falamos, Não amamos, não sentimos, Vivos sem sentido, sem sentimentos. E não expressamos reações De dores, angústias, amor e ódio. Passamos um infindo ócio, E nada realizamos, nada enxergamos. Partidos de um vácuo extenso, Pingentes leves que à frente nunca tendemos, Só ao chão, o lastro processador, Quando caímos. Se a vida é após a morte E desta razão os homens mortos Ressuscitam, contrariando A própria consciência divina. Que ao seu juízo somos todos vivos. Mas como a morte que se anuncia É vida, é morte, a nossa condição na terra, Somos mortos de olhos abertos Zumbis criadores, mortos Que temem o revés, a vida. O homem vive da morte e espera A vida numa condição de passado.