Sei pouco do que pensam que sei Se falo a evitar o silêncio Que se veste das vestes da morte É que temo estar morto, e sem saber Falando sei que estou vivo, Estando calado, quieto, forjo um sorriso Só para verem que ainda estou vivo. E por desatino assim determinei pra mim, Que a vida é a fala. Tanto que o morto cala, E o seu silêncio definitivo é escabroso, Afigura-se uma vontade de não mais falar Estampada no seu rosto. Também não e dado a quem já foi, Deixar sua voz, outras palavras Que tinha por dizer. A morte é uma surpresa E se percebe quando a boca se fecha, E o coração se cala, como se tanto fez, O que fez e sentiu, e tanto faz O que não resta mais. Qualquer estória, em qualquer pé É um bom motivo pra parar, A sua história fica pra quem bem quiser, Falar, contar. Calou-lhe a voz, foi-se a foz Que espargia palavras, vida, Que vida é falar.