Eu vivo o que vejo, relato, por isso me abalo com a realidade Vivemos nesse submundo, de mãos calejadas balançando as grades Morreu mais um sobrevivente da favela Morreu mais um, soldado da minha aquarela Um papelote compra um lote aqui, um barraco e cobre (cobre) É um adianto ilegal atrás de um rosto nobre (nobre) Da minha aquarela só um pouco sobreviveu E foi no breu que uma pá de sangue bom se perdeu Ó nem viu quem cometeu Perai olha lá temos mais Deus da dar Do que o diabo pra tirar Sabe qual é, desespero vem pra atrapalhar ó Tipo testar sua fé, situação pior Que não respeita os barracos de madeira A dona lavadeira, nem o braçal responsável pelas muralhas que esconde Toda essa riqueza, toda vez pra vocês nada a declarar Ó que firmeza ó, até a sociedade está ficando sem defesa Soldados da minha aquarela, estão marchando, chegando em sua meta Vocês estão condenados a mansão perpétua Eu que não quero ver um irmão de jaz Vai aí nessa paz que a luxúria lhe traz Ainda eu acho que Deus é mais, é maior respeito pelo que acho que ficou pra trás Chicotadas, mãos perfuradas, tudo por você, o resto cê vê Enquanto isso o bom velhinho lá no beco diz Tá gotejando no barraco só que o véio tá feliz Ó irmão olhe bem nos confins do céu Peço ao senhor por favor tire o amargo desse féu Que não condene, só corrija, o poderoso infeliz Tá tudo ai gravatinha do jeitinho que você quiz Eu sei que tudo vai mudar, eu sei, eu sei, Deus não vai me abandonar Morreu mais um sobrevivente da favela Morreu mais um soldado da minha aquarela Um papelote compra lote aqui, um barraco e cobre (cobre) É um adianto ilegal atrás de um rosto nobre (nobre) Minha favela estremeceu até o escalão Quatro paredes de madeirite, acolhe é a única defesa, quando não, lá vem barraco Lá de cima, esborrachar na sua cabeça, que o criador permaneça nos lugares que Acolhem meu povo A lei é nua, crua, suja, transformou a marcha fúnebre em um hino nos patios, nas ruas O coração acelera você se assusta com a situação, é 9mm cromada nas palmas da mãos Futuramente mais um pobre favelado a luz de velas dentro de um caixão O médico pode ser bom, mas jamais deixará de ser um paciente O horizonte não se esconde ó, somos nós que dele se afastamos, entende? Problema é um fato consumado, Deus tá com nós, eu tó ligado Nele creia, o mesmo amor que sente pelo mundo, ele sente pela nossa aldeia Os becos e vielas, o nosso pai é o dono do mundo e o fundo Ele criou o céu e a terra, o pai senhor ama aquarela O submundo, imundo que você patrão, botou o nome de favela Eu sei que tudo vai mudar, eu sei, eu sei Deus não vai me abandonar Eu vivo, o que vejo, relato, por isso me abalo com a realidade Vivemos nesse submundo, de mãos calejadas balançando as grades Morreu mais um sobrevivente da favela Morreu mais um soldado da minha aquarela