Numa tardinha Fui andando por aí Coincidiu que eu descobri Pedacinhos de saudade Tudo igualzinho A um retrato descorado De um cenário amarrotado Pelo avanço da cidade A figueirona Com seu tronco já ferido Pelo golpe desferido De um machado sem amor Condenada Sem direito a julgamento Vai tombar qualquer momento Pelas mãos de um malfeitor Memorizando Minha vida já passada Recordei naquele instante O velho pouso de boiada E ali mesmo Encontrei só um pedaço Do que um dia foi um laço De um habilidoso peão E da baldrana As pequenas margaridas Igual estrelas caídas Espalhadas pelo chão E do lombilho Tropecei num velho caco O farrapo de um guanaco Que um dia foi chapéu Sons de viola Explodiam pelo ar Parecendo anunciar Um fandango lá no céu Memorizando Minha vida já passada Recordei naquele instante O velho pouso de boiada Resto de cerca Que já foi de algum potreiro A armação de um cargueiro E uma trempa enferrujada E num palanque Velho tronco de ipê A inscrição que a gente lê Velho Pouso de Boiada Num sonho louco Retornei à mocidade E ruminando a saudade Até altas madrugadas Juro por Deus Que chorei naquele instante Quando ouvi som de um berrante Despertando a peonada Memorizando Minha vida já passada Recordei naquele instante O velho pouso de boiada