Desde cedo aprendi, onde era o meu lugar Mas eu nunca engoli as sobras do seu jantar Não me diga onde ir, não me diga o que fazer Meu agora meu aqui, não dependem de você Sonego, não nego e vou sonegar O que for imposto ao gosto do meu paladar Sonego, não nego e vou sonegar O que for imposto ou oposto do meu ser-estar Eu sempre vivi no morro, mas não morro sem viver Sem ter que pedir socorro quando precisar comer Eu não quero piedade, de quem nunca deu um piu Com vergonha da verdade, no sangue a cor do Brasil Sonego, não nego e vou sonegar O que for imposto ao gosto do meu paladar Sonego, não nego e vou sonegar O que for imposto ou oposto do meu ser-estar Nosso país é puro, mas daquele jeito Pura hipocrisia, puro preconceito Você me disse um dia que ser negro é um fardo E esclarece que não é negro, é pardo Falou que na família nunca teve um mulato E passa o tempo todo, escondendo os retratos E eles vão revelar o que eu já descobri Que a bisavó pulava a cerca toda noite com Zumbi Sonego, não nego e vou sonegar O que for imposto ao gosto do meu paladar Sonego, não nego e vou sonegar O que for imposto ou oposto do meu ser-estar