Eu quando vejo um rapaz da sua idade estendendo a mão Dele não tenho compaixão Porque não me conformo, Ver um homem de talento não querer trabalhar Sempre no me-dá-me-dá Eu também já passei fome Já sofri e não morri Estou aqui vivo e são E ninguém vai dizer que não Eu já andei atrapalhado Já andei afanado Mas nunca pedi tostão Acho que estou com a razão Eu enfrentei uma marreta na pedreira São Diogo Quebrando pedra roliça Passando a pão e a lingüiça Dormindo no cais do porto No meio da sacaria, Onde os ratos dormia, Onde ventava e chovia Quando o dia amanhecia Vinha o chefe da limpeza Jogando água fria Vejam só como eu saia, Sem café e sem cigarro Sem saber pra onde ia Sem tostão e sem vintém Mas nunca pedi a ninguém Cortei asfalto na linha Fui vendedor de galinha Carreguei cesto na feira Eu fui garçom de gafieira Comia numa tendinha Que só fritavam sardinha com azeite de lamparina Eu só cheirava a gasolina Fui peixeiro, carvoeiro, quitandeiro Fui bicheiro, apanhei como um ladrão Mas não mudei de opinião E como sou caprichoso, Hoje me sinto outro homem Até já mudei meu nome Já me disseram até que eu virava lobisomem