Severino e o Canto dos Pardais (Nós somos pássaros, com asas, e sem destino.) Pássaros fortes trazidos em gaiolas Soltos a própria sorte por migalhas e esmolas Amontoados como carga num tumbeiro A rota obscura do Atlântico ao morteiro Sessenta dias de transporte, é resistência O canto em tom de dor carrega a alta de doenças Espécie rara, de rápido e fácil adaptação Atentos, desconfiados e resistem bem a perseguição Todos de cores iguais, para regiões diferentes Era o início agressor do novo continente História que traz a morte, açoite entre linhas Liberdade cantou e trouxe o início de novas agonias São voos rasantes, marcados no tempo Traçando caminhos, levados pelo vento Formando seu bando, no alto dos morros Improvisando ninhos, com pouco conforto Seja no frio do inverno, ou no calor do verão Cada tempo com seu tormento, em cada estação E hoje somos muitos, formamos milhares Do norte ao sul do país, do DF a Palmares Falta de sorte aqui estou longe de casa Na cantoria de pardais do sul ao norte E em cada canto ouço cantos nessa estrada Lamentações de outono num país que sofre São muitas migrações do interior as grandes cidades Falsa liberdade em busca de oportunidade É a selva de pedras e predomina a lei do mais “nobre” Na nova arquitetura quem não encontra telhado, morre! É a exposição da química que matam insetos O tal controle de pragas dos tempos modernos É o extermínio em massa, arapucas covardes As cantorias já não ditam mais os fins de tardes É natural segregação das leis dos homens É o ciclo de ganancia de uma pouca espécie que consome No limite da necessidade existe um mar de vaidade El niño que aquece e incendeia a comunidade Uma prova diária, em busca da sobrevivência Adaptar costumes faz parte da nossa essência É a luta por espaço nessa fauna estressante Caçadores, predadores, preconceito ignorante Todos voemos ao sul, o refúgio é o pódio O bando junto reescreve um novo episódio Planando na tempestade, mais um caído do ninho Eis aqui um filho de um pardal, chamado Severino Falta de sorte aqui estou longe de casa Na cantoria de pardais do sul ao norte E em cada canto ouço cantos nessa estrada Lamentações de outono num país que sofre