O que eu já sei ninguém me tira O que eu amei ninguém me tira O que eu sonhei ninguém me tira O amanhecer ninguém me tira O que eu já vi ninguém me tira Eu reparti ninguém me tira Aquele azul ninguém me tira A minha luz ninguém me tira Pode tirar meu livro e o meu berrante Pode entregar a estola pro traficante O que eu já sei ninguém me tira O que eu já sei ninguém me tira Pode parar meu canto já ofegante Ponha meu verso nu como um deus Xavante O que eu amei ninguém me tira O que eu amei ninguém me tira Pode vestir a noite no meu semblante Pode enforcar Pixote matar Cervantes O que eu sonhei ninguém me tira O que eu sonhei ninguém me tira Pode entrar no céu e quebrar a ponte Me proibir a entrada no horizonte O amanhecer ninguém me tira O amanhecer ninguém me tira Pode apagar passado e vender futuro Pode indenizar alma e derrubar muro O que eu já vi ninguém me tira O que eu já vi ninguém me tira Pode comprar juiz e inventariante E deserdar meu filho do diamante Eu reparti ninguém me tira O que eu reparti, já reparti ninguém me tira Pode queimar o verbo corão na estante Pode roubar a pedra do meu turbante Aquele azul ninguém me tira Aquele azul ninguém me tira Pode enganar-me um monge um pastor farsante E me considerar insignificante A minha luz ninguém me tira A minha luz ninguém me tira