Eu tenho a sede nos lábios De dores, a alma cheia Nos olhos marejo ânsias de chegar Eu venho de muito longe De onde a fome campeia Não trago histórias bonitas pra contar Migrei de campo e semente Pra não mais ter que semear E herdei a sina inclemente Dos que não têm pra plantar Segui os rastros deixados Pelos que ousaram sonhar E os ossos dos desgarrados Me diziam pra voltar Voltei pra o berço da Pampa De onde, um dia, parti Reconheci minha estampa Em cada sanga daqui Meu zaino, quase cansado Fareja o chão da querência Juntando as forças que restam pra chegar Andei por terras estranhas Cinchando a sobrevivência Mas o que deixei aqui, não tem por lá Só trago versos tristonhos Que a solidão faz cantar Na concha das mãos, os sonhos Que ainda pude salvar Segui os rastros deixados Pelos que ousaram sonhar E os ossos dos desgarrados Me diziam pra voltar Voltei pra o berço da Pampa De onde, um dia, parti Reconheci minha estampa Em cada sanga daqui