Encilhei o baio, ruminando a soma; Pra sobrar uns trocos do que eu recebi; Terminei a lida, entreguei a doma; Já não tenho nada pra fazer aqui. Quando a vida cobra, não nos dá recibo; Quem não tem raízes tem mais que partir; Pisoteando a alma com o pé do estribo E o peito sangrando não querendo ir. (Quem sepulta os sonhos, paleteando a vida, Vai abrir feridas para a solidão; Se não se dá conta quando amadurece, Um dia, envelhece de freio na mão.) Quem cansou cavalos cuidando do alheio, Nem mesmo o arreio não sabe se é seu; Acho que chegou a hora da virada; Já cansei de estrada, quero um canto meu! Tem algo diferente, na manhã de maio; Nem a liberdade não me satisfaz! Fico disfarçando, ajeitando o baio; E o olhar da moça me tirando a paz. Como a terra se abre, quando o arado lavra, Dizem que um olhar nos abre o coração; É quando a luz dos olhos diz mais que a palavra E o calor da pele, bem mais que a razão. (Quem sepulta os sonhos, paleteando a vida, Vai abrir feridas para a solidão; Se não se dá conta quando amadurece, Um dia, envelhece de freio na mão.)