Milton Nascimento

O Que Será (a Flor da Pele) (part. Chico Buarque)

Milton Nascimento


O que será que me dá?
Que me bole por dentro
O que será que me dá?
Que brota à flor da pele
O que será que me dá?

E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos, a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar

O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo
Me faz suplicar

O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será?
Que dá dentro da gente
E que não devia
Que desacata a gente que é revelia
Que é feito uma água ardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos toda alquimia
E nem todos os santos

O que será que será?
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá?
Que me queima por dentro, será que me dá?
Que me perturba o sono, será que me dá?
Que todos os tremores vem agitar
Que todos os adores me vem atiçar
Que todos os suores me vem encharcar

Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a aclamar
Que uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo