Figurante de um retrato amarelado De vida cinza como os fios do seu cabelo A passos lerdos, hesitantes, sufocados, Tenta em vão se convencer de frente ao espelho Que cada ruga e cada dente cariado Seriam nada mais que experiência em pêlo Mas denuncia um olhar frouxo e cansado Que a morte à espreita já não é o pior dos medos De que valeram tantos livros consumidos? E as canções de militância libertária? Se me esguio ébrio à beira do abismo Procuro afagos da doce mãe eutanásia Aos agnósticos e crentes dou meu riso Valores tolos que não levo mais a sério Hoje comungo os sentimentos do patíbulo E conto os dias pra deixar de ser um velho Repousa mórbida e angustiosa Como a carregar o próprio esquife A sombra estóica e impiedosa Silenciosa da velhice