Sou neta de guerreiras Mais uma filha da justiça Sobrenome pereira Uma das poucas que acredita Vim da ceilandia norte, lá do g da 23 Quebrada mais que forte, rua onde me criei Por tempos me mantive calada e omissa Pensava que era fraca, otária, submissa Nos corre desde cedo Vários tenta me tirar Mas eu tô numa guerra Não posso nem vacilar Pros ricos tanto faz se eu tô viva ou morta Desde que sempre esteja embaixo de sua bota E como mulher preta dizem qual é o meu lugar Só que eu não sou sujeita O mundo é meu, vou conquistar Não aliso o meu cabelo Não escondo a minha cara Não me compram com dinheiro Minha voz nunca se cala São tantas outras por aí iguais a mim Anonimato não decretará meu fim A história das minhas heroínas nunca foi contada Tereza de benguela, luiza mahin, dandara Sonhadora até umas hora Eu insisto em acreditar Que um dia a vida Do meu povo pode melhorar Porque pra mim não dá Pra fingir que não vê Que quem mora na rua É igual a eu e a você Porque pra mim não dá pra aceitar covardia Ver que tudo que é de ruim Só sobra pra periferia Fosse o certo pelo certo Tudo ia ser mais bonito Mas na selva de concreto Quem manda é o egoísmo Fosse o certo pelo certo Eu não ia nem reclamar Várias famílias sem teto Tanta casa pra morar É por isso que eu canto Rap som do oprimido Pra fazer brotar orgulho No nosso povo sofrido Vivendo pelo certo Dia a dia, vou que o vou O que quer que eu faça É por nois por amor Quebrando as barreira Que o sistema colocou Mais uma favelada Que a polícia não matou Não sou sujeita passiva Meu forte não é ser espectadora No grande palco da vida Sou protagonista e também diretora Cansada de ver tantas pessoas Que mesmo indignadas Se calam com a injustiça Achando que nunca vai dar em nada Eu sei que a realidade É fruto de tudo o que a gente quiser É o velho ditado Montanhas se movem com o poder da fé Sei que uma andorinha Não faz sozinha Seu próprio verão Só que essa andorinha Carrega em si o peso da missão A missão quase impossível Enfrentada todo dia De quem é sobrevivente Em meio ao caos e a agonia Sofrimento recebido Como dádiva divina Maldição do bem Ao mesmo tempo que maltrata, ensina Mas a minha grande herança Não é de moeda nem de papel Ao contrário de muitas pessoas Não vou encontrar somente no céu Do meu pai e da minha mãe Foi que me veio a pele dura Pra doença que os atinge Hoje sou eu quem busca a cura A herança que herdei Vem de um passado distante Das rainhas e dos reis Do glorioso império axânti De uma terra só de preto Que ninguém ouve falar Que nos livro de história Não tem foto pra mostrar Nois é muito mais do que O que aparece na tv Você é muito melhor Do que o que pensam de você Erga agora sua cabeça Pretos e pretas, bora levantar Pra que os escravo urbano Possam enfim se libertar Vivendo pelo certo Dia a dia, vou que o vou O que quer que eu faça É por nois por amor Quebrando as barreira Que o sistema colocou Mais uma favelada Que a polícia não matou