Na delícia do incerto O pastor vai no deserto De rebanho tresmalhado Leva o canto constelado Leva a fome para o caminho Seis venenos de adivinho A flauta verde abissal Em ecos roxos de cristal Mil e uma noites a arder Mil e uma noites claras Tem alegrias de sustento Sete perfumes para o vento Só de sede saciado Leva o salmo espantado Leva a fonte da secura O astrolábio da procura Leva a ferida e leva o sal Para a noite nupcial Mil e uma noites a arder Mil e uma noites claras Onde o azul se inicia Põe o peito na vigia Sobre a terra avermelhada Lança o cobre na queimada Levanta-se o breu da neblina Onde o ouro se ilumina Febres fumos e sombras tortas Cospe o fogo as línguas-mortas Mil e uma noites a arder Mil e uma noites claras Escuta a estrela cadente do mundo Decifra a constelação Mede a luz do grito fundo Com os dedos duma mão Foragido da cidade Animal da suavidade Perseguindo a migalha Nove sóis na fornalha Entre o céu e a terra Leva a paz e a guerra Leva no coração noturno Dez anéis de Saturno Incendeia o firmamento Com os astros do pensamento Onze galáxias na ampulheta Doze caudas de cometa Morde a noite o seu saltério Dança trilhos de mistério Línguas lírios tamboris Relampejam no que diz Mil e uma noites a arder Mil e uma noites claras Escuta a estrela cadente do mundo Decifra a constelação Mede a luz do grito fundo Com os dedos duma mão