[Max Souza] Céu negro, lar de anjos e demônios Onde tudo inspira sonhos, ilusões, pesadelo, canções Nossa sinfonia é o gueto onde a poesia sangra Sangue, negro, drama Adapte o enredo Tira Chico Buarque, coloca Criolo Com um novo cálice na trama E canta como nossos pais Pois aqui a tristeza é senhora Desde que o samba é samba Então chora, quebrada Mas mostra teu sorriso Mesmo tendo mais do inferno aqui Do que paraíso Nosso diabo usa farda Mas no fim todos são vítimas Na frente ou atrás das armas É o nosso karma: Sangue, suor, lágrimas Secretamente entre a sombra e a alma O caos, a calma de um sorriso negro Presente na melancolia desse samba enredo [Sarah Guedes] Olha quantos corpos negros aí Estirados no chão Olha quantos sonhos negros aí Estirados no chão Olha quantos filhos negros aí Estirados no chão Olha quantos corpos negros aí Estirados no chão [Sarah Guedes] É mandinga mantida oração É carência de calo no pé É feitiço pra curar a dor 17 anos pra benzer e se foi Pede bênção pra vó que é sinhá Desde berço sensível a ação Meu menino, Deus lhe proteja Ele desce o morro, despede e sorri Chinelo desce o beco (Pra benzer e se foi) Chinelo sobe o beco (Olha quantos corpos negros aí) Chinelo sobe o beco (Olha quantos filhos negros aí) Chinelo desce o beco (Meu menino, Deus lhe proteja) [Kainná Tawá] Peço em minhas orações que toda ação seja guiada Marcas deixadas, mãos bem calejadas, pegadas Ancestralidade, lutas tão duras, minha face pura Minha carne dura o tempo de sair na noite escura Tipo eclipse, nem viu, querendo apreciar a lua Julga, nem quer saber, mas quem tá parado na rua? Você! Tomam suas armas Sangue, suor menos lágrimas Na selva entre leões e vilões Acertamo as falhas Levanta que eu quero ver Os preto vencer Somos mais que choque, armas Fardas na calada, bala, somos alma Cê quer provar o que pra nós? Só vejo covardia Adrenalina fria em mães que arrepia Medo, ódio, manipulação, menos ação justificada Melodia que sara, o rap ainda salva Melancolia os versos não desamparam Disfarça a dor e põe amor no peito, não se cala Conseguimos chegar até aqui, não vão regredir Vamo insistir pra glória conseguir Posso sentir os sinais Somos a força de nossos ancestrais Aliás, estrelas no gueto brilham mais [Djonga] Pus minhas correntes, agora me sinto livre Me sinto um livro, carrego a história em mim Prestes a cruzar o Atlântico, dessa vez como capitão E eles não se adaptam E o rap volta a ser um grande quilombo Lugar pra Dandara, não pra Colombo Hei, me lembra uma roda de jongo Os boy tá alto, né? Vão ver o tamanho do tombo Um espetáculo Que nem o show de Billie Holliday E no mundo que eu criei minha lei É, apenas Tássias podem ser reis Ou rainhas Como Iemanjá, manja? Grandes como Gracie Jones, esbanja O ouro que nós esbanja É pra lembrar que cês não conseguiu tirar tudo da gente Trabalhamos de graça 400 anos Bitch better have my money Que chore sua mãe primeiro Cansei de ver chorar minha mãe, né?! Michele Obama pra esses Donald Trump Somos o trampo! Nos entregaram o carro estragado Vamo fazer pegar no tranco Viemo da Angola dançando kuduro Eles descem da Europa tudo bunda mole Não esperavam, Davis Viola no futuro Nos fizeram proletário, logo somos mais que prole Do seu humor negro, ou melhor, humor branco Laurin não riu Gargalharemos quando sobrar pouco Bolsonaro Pra muita Preta Gil É! No meu país até a bala come E tem criança que ainda não Falta de divisão, de visão Culpam inflação ou extração Grana pros gringo, deixa nós fudido Vivendo no fim do mundo que nem Elza Por isso merecemos prêmios, Whitney Houston Pedem socorro quando estamos próximos De longe, ouço: Mayday, Houston! Tamo pra escrever uma nova página (amém!) Carolina de Jesus vai se orgulhar Que o que era quarto de despejos Seja o quarto dos nossos desejos Que seja poço dos desejos pra nóis mergulhar Antes fingiam que não escutavam Agora vão fingir que ouviu só porque eu disse São meus manos, minhas minas, meus irmãos, minhas irmãs Ê, o mundo é nosso