A estância acorda mais cedo um galo canta mais forte Um ventito puxa o norte pras barras da madrugada No galpão a peonada toca uma charla entretida Que depois da recolhida vão lidar numa carneada! Ao tranco prá uma mangueira que a tambeira mostra o rumo Entra junto pra o consumo a vaca gorda e falhada Uma preta azebuada que o trevo afirmou à graxa E hoje no más se agacha no fio da faca afiada! Cavalo manso encilhado sovéu e laço nos tentos Nesta lida que é o sustento pra mesa do chão fronteiro Salta o sovéu pescoceiro num tiro certo e preciso E pra sombra de um paraíso se vai cinchando o campeiro! O sangrador coloreia ao cheiro que o sangue pulsa Num berro a vaca debruça como se fosse oração Numa prece pra o rincão que viu nascer a terneira E hoje tem na carneadeira sua ultima comunhão! Riscando o couro começa as patas e a barrigueira E a chaira nem que não queira não se aparta da carneada Volta e meia uma chairada como quem toca de ouvido Já tem o couro tendido na milonga mais afiada! Cerra o peito e ata a goela com uma virilha deitada O coração, a “riñonada”, vai apartando as frisura E quando a carne pendura no gancho pra ir oreando Tem o Rio Grande mostrando do campo a força e a fartura!