Ir pra Minas e ser boi lá Mascar, pastar, sorrir, pensar Olhar de rabo de olho (Se é que boi tem isso) Os carros voando na BR Tentar perceber o motor Essas pessoas que têm alma Eu me pergunto por quê elas vêm e vão para Brasília Em tamanha velocidade Ser a encarnação do boi Esperar a minha hora chegar Sem pressa e sem pressão Divagar bem devagarinho Ser a encarnação do boi Esperar a minha hora chegar Sem pressa e sem pressão Divagar bem devagarinho Fixar o olhar no horizonte Encarar demoradamente Se perder da noção da hora Ralar o chifre no mourão da cerca Sorrir e ser boi Sorrir e ser boi em Minas Sorrir e estar em Minas (Sorrir e pisar em Minas) E enxergar além da cerca Sonhar pra além da colina Daquela gente toda na BR Além do limite de velocidade Sorrir ao respirar Curtir a gramática Viver a dialética O bafo quente do pasto Mugir graúdo à sombra desta velha E majestosa mangueira carregadinha (Fazer mil versos como esse anterior) Pastar, sorrir, pensar, olhar Um coração de boi Sem prece, sem perdão Sangrar no arame farpado Chifrando algo ou alguém Concluir o mundo e senti-lo Concluir o mundo a senti-lo Me excluir do mundo, tranquilo Minhocar sobre as razões das gentes Te olhar e babar Em você, em mim ou no capim Calar e compreender Te olhar e pastar Mugir pro céu e agradecer Querer reverenciar Este momento singelo De comer quieto com o anu nas costas Sorrir e balançar Sorrir e balançar a cabeça Desatinar que nessa mesma hora Toda aquela gente estoura Os limites da velocidade A estrada deserta atrás da cerca Aquilo que parece ser O motor das pessoas Ir pra Minas e ser boi lá