Se eu chegar um pouco tarde mulher Bote as suas mãos pro alto Um dia amanheço inchado morto atropelado Com a cara no asfalto Aperte bem meu corpo mulher Não pare de me beijar Essa semente fantasia Que por dentro cria começa a brotar Meu homem não fale não grite não chore Não ponha tudo a perder Essa despensa miniatura Nossa dor não cura Dá pra dois comer Agora que o carnê se finda homem Destaque em praça a sua mão Em cima do mudo criado O baralho marcado já não tem função Minha sentença está na mesa mulher Me sirvo de toda tristeza Estou por Deus Enfeitiçado já estou condenado Vou me embriagar Esta garrafa aqui guardada homem Era pra comemorar A volta do seu filho mau Que a condicional não pode curar Meu crime foi saber de tudo mulher Meu erro foi amar demais O bom cabrito não berra Quando a chave emperra usa as laterais Você que anda se escondendo homem Gemendo a vida de simplório Um dia cortam o seu salário Seu noticiário e seu ambulatório Agora que acabou o esforço Me enforco o talho no meu pescoço Deixo o meu sonho inacabado E um sorriso forçado pra te agradar E um bilhete premiado E um certificado de grupo escolar Agora que acabou mulher Não esconda o seu azar Diga que eu fazia medo Só com o gosto azedo vinha me beijar Meu retrato em terno branco mulher Não o deixe encaixotar Pendure amarre com barbante Que é confortante pro parente olhar Agora que acabou mulher Tem a indenização Tem o salário família A faca que brilha no meu coração Agora que acabou mulher Agora não sou mais sangrento Deixo o meu corpo gelado O lençol manchado Sujo de cimento