Meu Deus, deixai que eu me esqueça Da minha vida de agora Que apenas o meu passado Eu possa alegre rever Deixai que me identifique Com os raios da luz de outrora Daquela risonha aurora Do meu passado viver Que eu sinta de novo a vida Na infância linda e ditosa Na alegria inalterável Do lugar onde nasci Quero rever novamente A paisagem luminosa Sentir a emoção grandiosa De tudo o que já senti! Ah! Que eu possa hoje olvidar Imensidades, esferas Concepções mais perfeitas No progresso que alcancei Que das ruínas, dos escombros Minhalma retire as heras E contemple as primaveras Da vida que já deixei Quero aspirar os perfumes Dos cendais cheios de flores Na fresca sombra dos vales Sob a luz do céu de anil! Rever o sítio encantado Da minha estância de amores Meus sonhos encantadores Minha terra, meu brasil! Escutar os sinos calmos Sob a alvura das capelas Enchendo as longes devesas De convites à oração Sentar-me no prado agreste Beijar as flores singelas Mirar a luz das estrelas Ouvir a voz da amplidão! Correr sob o sol-nascente Até que chegue o luar Procurando os passarinhos E as borboletas tafuis Que esperança, que ventura! Viver, sofrer, e amar A campina, o sol, o mar Campos verdes, céus azuis Ser homem e ser criança Toucar-se a alma das galas Da poesia inexprimível Da alvorada e do arrebol Oh! Natureza da terra Que tesouros não exalas Na carícia dessas falas Do passarinho e do sol! Eu gozo de quando em quando Revendo essa claridade Da existência transcorrida Guardada no coração E dos cimos desta vida Na excelsa imortalidade Verto prantos de saudade A luz da recordação