Falar-vos de martírios e tormentos É perpetrar amargas redundâncias Redizer minhas mágoas, minhas ânsias Renovar minhas síncopes de dor Não sorvo mais os tóxicos violentos Do desespero e da melancolia Após a derrocada Das construções de um sonho superior Tudo outrora, senhor Na minha pobre vida abandonada Era o tédio cruel que me impedia De vislumbrar a claridade intensa Da luz do sol puríssimo da crença Tudo em volta de mim era a cegueira Que torturou a minha vida inteira Que me seguiu o espírito ambicioso! A carne é pobre e é cheia de fraqueza Simbolizando o ciclo tenebroso Das sínteses de dor da natureza E a carne subjugou-me inteiramente Fez-me fraco e descrente E transformou a minha mocidade Num montéo de ambições, de fama e glória Adormeceu-me aos cantos da vaidade E me afastou da estrada meritória Da crença e da bondade Misericordiosíssimo senhor! De tortura em tortura amargurado O meu frágil espírito inferior Viu-se presa de trevas, no passado E a desgraça suprema o amortalhou Tudo sofri, de dor e de miséria Mas a tua bondade me levou A esquecer a influência deletéria Da carne passageira Rompeste a minha venda de cegueira E divisei o excelso panorama Do universo infinito, que te aclama Como a fonte do amor ilimitado! Relevaste, meu Deus, o meu pecado E pude ouvir as harmonias puras Que equilibram os mundos nas alturas! Cheio de amaridúlcida ansiedade A esperança o espírito me invade Aguardando das lágrimas futuras A minha redenção Que a confiança, pois, em ti me anime Que no porvir a dor bela e sublime Jorre em minhalma a luz da perfeição