Chamam-me agora aí Cigarra morta E não podia haver melhor definição Porque caí estonteada à porta Do castelo em ruínas Do desencanto e da desilusão! Minhas futilidades pequeninas Meus grandes desenganos Eu mesma inda não sei Se é ventura morrer na flor dos anos Sei apenas que choro O tempo que perdi Cantando em demasia a carne inutilmente E vivo aqui, somente De quanto idealizei De belo, de perfeito, grande e santo Que inda hei de realizar Com a rima do meu verso e a gota do meu pranto Dá-me força, Senhor Para concretizar meu anseio de amor Evita-me a saudade Da minha improdutiva mocidade Eu não quero sentir Como cigarra que era A falta das canículas doiradas Sob a luz de ridente primavera Já que tombei cansada de cantar Calando amargamente Perdoa, Deus de Amor, o meu pecado Que eu olvide a cigarra do passado Para ser uma abelha previdente