Ó Lua branca, suave e triste A Mãe pedia, fitando o céu Dize-me, Lua, se acaso viste Nos firmamentos o filho meu A Morte ingrata, fria e impiedosa Deixou vazio meu doce lar Deixou minh'alma triste e chorosa Roubou-me o sonho, deu-me o penar Se tu soubesses, Lua serena Como era grácil, que encantador Meu anjo belo como a açucena Cheio de vida, cheio de amor! Disse-lhe a Lua: Eu sei do encanto Dum filho amado que a gente tem E das ausências conheço o pranto Oh! Se o conheço, conheço-o bem! Então, responde-me sem demora Continuava, sempre a chorar Em qual estrela cheia de aurora Foi o meu anjo se agasalhar? Mas não o avistas, responde-lhe ela Naquela estrela que tremeluz? Abre teus olhos, é bem aquela Que anda cantando no céu de luz E a Mãe aflita, martirizada Fitou a estrela que lhe sorriu Sentiu-lhe os raios, extasiada E dos seus cantos, feliz, ouviu Ilha pacífica, da esperança Sou eu no mar do éter infindo Do sofrimento mato a lembrança E abro o futuro, ditoso e lindo Do Senhor tenho doce trabalho Missão que é toda só de alegrias Flores reparto cheias de orvalho Flores que afastam as agonias Se tu me odeias, se me detestas Contudo eu te amo e pergunto: Quem Não tem saudades das minhas festas? O teu anjinho teve-as também Em mim a noite não tem guarida Aqui terminam os dissabores Aqui em tudo floresce a vida Vida risonha, cheia de flores! A mãe saudosa, banhada em pranto Notou de logo seu filho lindo Todo vestido dum brilho santo Num belo raio de luz, sorrindo Disse-lhe o filho: Tive deveras Muita saudade, mãezinha amada Senti a falta das primaveras Senti a falta desta alvorada! Não resisti, tanta era a saudade! Voltei do exílio, fugi da dor Aqui é tudo felicidade Paz e ventura, carícia e amor! Ó mãe, perdoa, se mais não pude Ficar contigo na escuridão A Terra amarga, tristonha e rude Envenenava meu coração Aqui, na estrela, também há fontes Jardins e luzes e fantasias Sóis rebrilhando nos horizontes Sonhos, castelos e melodias Daqui te vejo, daqui eu velo Pelo sossego dos dias teus Faço-te um ninho ditoso e belo Muito pertinho do amor de Deus! Aí os olhos da desditosa Nada mais viram do Eterno Lar Viu-se mais calma, menos saudosa E, estranhamente, pôs-se a chorar