Maurício Gringo

Angústia Materna

Maurício Gringo


Ó Lua branca, suave e triste
A Mãe pedia, fitando o céu
Dize-me, Lua, se acaso viste
Nos firmamentos o filho meu

A Morte ingrata, fria e impiedosa
Deixou vazio meu doce lar
Deixou minh'alma triste e chorosa
Roubou-me o sonho, deu-me o penar

Se tu soubesses, Lua serena
Como era grácil, que encantador
Meu anjo belo como a açucena
Cheio de vida, cheio de amor!

Disse-lhe a Lua: Eu sei do encanto
Dum filho amado que a gente tem
E das ausências conheço o pranto
Oh! Se o conheço, conheço-o bem!

Então, responde-me sem demora
Continuava, sempre a chorar
Em qual estrela cheia de aurora
Foi o meu anjo se agasalhar?

Mas não o avistas, responde-lhe ela
Naquela estrela que tremeluz?
Abre teus olhos, é bem aquela
Que anda cantando no céu de luz

E a Mãe aflita, martirizada
Fitou a estrela que lhe sorriu
Sentiu-lhe os raios, extasiada
E dos seus cantos, feliz, ouviu

Ilha pacífica, da esperança
Sou eu no mar do éter infindo
Do sofrimento mato a lembrança
E abro o futuro, ditoso e lindo

Do Senhor tenho doce trabalho
Missão que é toda só de alegrias
Flores reparto cheias de orvalho
Flores que afastam as agonias

Se tu me odeias, se me detestas
Contudo eu te amo e pergunto: Quem
Não tem saudades das minhas festas?
O teu anjinho teve-as também

Em mim a noite não tem guarida
Aqui terminam os dissabores
Aqui em tudo floresce a vida
Vida risonha, cheia de flores!

A mãe saudosa, banhada em pranto
Notou de logo seu filho lindo
Todo vestido dum brilho santo
Num belo raio de luz, sorrindo

Disse-lhe o filho: Tive deveras
Muita saudade, mãezinha amada
Senti a falta das primaveras
Senti a falta desta alvorada!

Não resisti, tanta era a saudade!
Voltei do exílio, fugi da dor
Aqui é tudo felicidade
Paz e ventura, carícia e amor!

Ó mãe, perdoa, se mais não pude
Ficar contigo na escuridão
A Terra amarga, tristonha e rude
Envenenava meu coração

Aqui, na estrela, também há fontes
Jardins e luzes e fantasias
Sóis rebrilhando nos horizontes
Sonhos, castelos e melodias

Daqui te vejo, daqui eu velo
Pelo sossego dos dias teus
Faço-te um ninho ditoso e belo
Muito pertinho do amor de Deus!

Aí os olhos da desditosa
Nada mais viram do Eterno Lar
Viu-se mais calma, menos saudosa
E, estranhamente, pôs-se a chorar

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