Outro dia rotineiro, Eduarda sai de casa Tudo escuro, 4:20, o distrito é Água Rasa Direção ao seu trabalho, vai a pé pegar o buso Bate de frente com um noia Que pede um cigarro, assustada, diz não uso Passos longos, cara fechada, coração vai batendo mais forte Rua deserta e silenciosa, cenas de filmes de morte Pensando no seu marido e recém-nascido que dorme no berço A Deus pede proteção que chegue ao destino, beijou o seu terço Receio de ser seguida, olhou pra trás e não viu ninguém Em nome do pai, do filho, Espírito Santo, agradece dizendo amém Lembranças do seu neném e de repente um vulto aparece Percebe suas roupas rasgando, seu corpo tocado, cadê sua prece? Fragilizada, perdeu seu domínio Junto também não tem mais raciocínio Violentada, roubada, humilhada Eduarda reza pra não ser latrocínio Jogada na rua, ferida, pedindo ajuda, é uma emergência Um senhor que passava por perto, discou 190, pedindo urgência Chego em casa cansada, segunda vez na semana Que ela volta atrasada trabalhando em hora extra Morava num lugar afastado de São Paulo Atravessava a Raposo e só pensava em sexta-feira Ligou pro namorado, avisou que tava bem Fechou a porta do quarto e foi vestir o pijama De dentro do armário ela escutou alguém Um homem mascarado com uma faca derrubou ela na cama Fica quieta e não resiste, se não se vai morrer Ignorando o que ele disse ela gritou pedindo ajuda Arranhava a cara dele tentando se desprender Só que ele revoltado, golpeou a sua nuca Ela tava atordoada, acordou toda amarrada Sua casa revirada, o que tinha acontecido Ela não acreditava com a força que restava Se arrastava pra chegar no telefone fixo Foi aí que ela sentiu sua camiseta molhada O ferimento latejava e parecia muito sério Ela foi esfaqueada e sua vida assaltada Se não for resgatada, vai acabar num cemitério Sangue escorrendo, na mente o mistério Quase sem tempo, o destino incerto Lutando contra a morte, ela alcançou a mesa de centro e discou 190