Negras nuvens Mordes meu ombro em plena turbulência Aeromoça nervosa pede calma Aliso teus seios e toco exaltado coração Então despes a luva para eu ler-te a mão E não tem linhas tua palma Sei que é sonho Incomodado estou num corpo estranho Com governantes da América Latina Notando meu olhar ardente em longínqua direção Julgam todos que avisto alguma salvação Mas não, é a ti que vejo na colina Qual esquina dobrei às cegas E caí no Cairo, ou Lima, ou Calcutá Que língua é essa em que despejo pragas E a muralha ecoa Em Lisboa Faz algazarra a malta em meu castelo Pálidos economistas pedem calma Conduzo tua lisa mão por uma escada espiral E no alto da torre exibo-te o varal Onde balança ao léu minh'alma Em Macau, Maputo, Meca, Bogotá Que sonho é esse de que não se sai E em que se vai trocando as pernas E se cai e se levanta noutro sonho Sei que é sonho Não porque da varanda atiro pérolas E a legião de famintos se engalfinha Não porque voa nosso jato roçando catedrais Mas porque, na verdade, não me queres mais Aliás, nunca na vida foste minha