Enquanto ainda não é tarde Quero viver que nem quem arde Até que um raio enfim me parta Sorver o vinho e o vinagre Crer no delírio e no milagre Ter a carcaça e a alma fartas Enquanto não me encontra um tiro Me perco e acho e, sim, deliro Pois de outra forma não há vida Eu quero o caro e a carícia O fel, o mel e a malícia E o duvidar de quem duvida Mas sigo crendo e defraudando o medo Que enquanto não é tarde ainda é cedo E enquanto é cedo não há o que temer E sigo sendo quem eu sou, por certo Meio encoberto e meio livro aberto Gastando a prazo a cota do prazer Enquanto a terra não me traga Vou ao encontro de uma adaga Mas devagar porque divago Em meio a um tiroteio e, cego Os sete mares eu navego E ainda peço o último trago Enquanto o caos me acalenta Vou brando e brindo à tormenta Brincando com quem não me cobra E enquanto eu penso nisso a Terra Gira e regira e em si me encerra No rodapé de sua obra Mas sigo crendo e defraudando o medo Que enquanto não é tarde ainda é cedo E enquanto é cedo não há o que temer E sigo sendo quem eu sou, por certo Meio encoberto e meio livro aberto Gastando a prazo a cota do prazer