Marturinhas

Autorretrato

Marturinhas


Pintei os sete
Baguncei tudo sem pensar nas consequências
Mas o meu mestre
Disse que tava na hora de começar a rascunhar
Desenhar a aparência
Que eu gostaria que os outros
Tivessem de mim no futuro

Comecei alegre
Mas não soube como terminar
Fiz vários rabiscos
E não consegui me agradar
Então uma ideia me pus a desenhar
Mas o grafite se quebrou
E parecia anunciar
A impossibilidade de um sonho

A vida tá aí
A vida tá aí

Continuei meu autorretrato
E certos detalhes eu me dei
Me sentindo desmotivada ou não-apta
Muitos deles eu apaguei
A imagem tava mais manchada do que clara
Pensei e repensei para ver se comigo
Eu chegava a um acordo

Com uma interrogação no rosto
Meu autorretrato ao mestre entreguei
Este analisou algumas partes
E disse algo que nunca esquecerei
Se prepare porque na vida deixará certas marcas
Que não dará tempo de passar a limpo

A vida tá aí
Sedenta
De ver como reajo
Com que ela me apronta
A vida tá aí
Que pena
Que não dá tempo mais
De fazer de conta

Mas ele prosseguiu
Dizendo que algumas borras se dá para disfarçar
Pintando sua imagem com cores mais belas e intensas
O defeito quase não se dá para avistar
E que é possível dá retoques decisivos
Com muita ousadia e coragem

Falou que aos poucos
A vida molda a gente
Mostra as cores que trazem harmonias
Nos faz habilidosos desenhistas
E enfim damos retoques elegantes e suaves
E fazemos da nossa existência
Uma obra de arte

A vida tá aí
A vida tá aí

A vida tá aí
Sedenta
De ver como reajo
Com o que ela me apronta

A vida tá aí
Que pena
Que não dá tempo mais
De fazer de conta