Martinho da Vila

Não Tenha Medo, Amigo

Martinho da Vila


Não tenha medo amigo
Não tenha medo
É
Como falou o poetinha Vinicius
"São demais os perigos dessa vida"
Mas o sangue brobulha nas veias
E eu tenho que andar na rua
Gosto de enfrentar o mundo cara-a-cara
Olhar as pessoas no olho
Tenho que estar nos botequins, nas favelas
Nos palcos, nas platéias
Nos campos, nas cidades, nos sertões
Aqui e acolá, como gente
Pés no chão, no meio do povo
Cautelosamente sem cautela
Receiosamente sem receio
Distraidamente distraído
Mas sem medo

Não tenha medo meu amigo, não tenha medo
Porque o medo é o seu maior inimigo

Admiro medrosos sem medo
Detesto valentes
De heróis desconfio
Do mundo eu não tenho medo
Mas viver a vida é um desafio
Não tenha medo
Não tenha medo amigo

É amigo
A vida é um segmento de reta sinuoso
Um vai e vem
Todo mundo tem que ser viandante
Pois "barco parado não faz frete"
- Tá lá nos caminhões
Fé em Deus e pé na tábua
Seguindo o destino
Moldando o destino, transando com ele
Sem medo do que você tem e do que você pode ter
Do que você é e do que você será
Vá em frente amigo
Amando a mulher amada
Dando amor a muitas mulheres
Caminhando em busca do infinito
Sem mitos, sem metas
Sem medo
Não tenha medo
Porque o medo é o seu maior inimigo

Não tenha medo de ficar doente
De ser impotente
Ou de levar um chifre
Confie no amor da amante
E na honestidade da mulher de casa
Não é mais tempo do duelo nobre
Ou de lavar a honra com florete ou sabre
Não tenha medo do clamor divino
E nem do capeta e seu inferno em brasa