Mariza

Fado Tordo

Mariza


Por mais que eu queira ou não queira
Salta-me a voz para a cantiga
Por mais que eu faça ou não faça 
Quem manda é ela, por mais que eu diga 

Por mais que eu sofra ou não sofra
Ela é quem diz por onde vou 
Por mais que eu peça ou não peça 
Não tenho mão na voz que sou.

Mesmo que eu diga que não quero 
Ser escrava dela e deste fado
Mesmo que fuja em desespero 
Ela aparece em qualquer lado

Mesmo que vista algum disfarce 
Ela descobre-me a seguir
Mesmo que eu chore ou não chore 
A voz que eu sou desata a rir.

Por mais que eu quisesse ter 
Só um minuto de descanso
Por muito que eu lhe prometesse 
Voltar a ela e ao seu canto

Por muito que eu fizesse juras 
A esta voz que não me deixa 
Perguntou sempre tresloucada: 
Eu já te dei razão de queixa?

Por muito que eu apague a chama 
Ela renasce ainda maior
Por muito que eu me afaste dela 
Fica mais perto e até melhor

Por mais que eu queira entender 
A voz que tenho é tão teimosa
Por mais que eu lhe tire a letra 
Faz por esquecer e canta em prosa.