Na parede do meu escritório Um desenho eu mandei fazer Uma velha locomotiva Dessas que não mais se vê Foram elas que em tempos passados O transporte do nosso Brasil Foi em cima dos trilhos de ferro Que o nosso progresso expandiu O meu pai foi um bom maquinista e deixou pra mim a profissão Foi na velha Maria fumaça Tocada a lenha e carvão Que sustentei a minha família e cortei o imenso sertão Depois tudo desapareceu e guardei a recordação Vendo a queda das ferrovias, pra não ver a sua extinção Foi ai que me formei doutor, pra defender a nossa questão Mas não quem pode lutar contra o poder da evolução Os colegas desapareceram, uns morreram outros deserdaram Velhas estações abandonadas, onde a última delas que eu passei Vi que o capim cobriu os dormentes e os trilhos enferrujaram Desse tempo que foi tão bonito, muitos anos depois encontrei Um amigo dos meus companheiros, abraçado com ele eu chorei Recordamos ali o passado e matamos a nossa saudade Mas a dor que o tempo não cura, reforçou mais a nossa amizade Novamente nós estamos juntos, cada um na sua atividade Nós somos dois maquinistas, que não perdemos de vista Tudo o que dela restou Foi a velha locomotiva, que me deu o anel de doutor