Eu pouco sei de ti mas este crime Torna a morte ainda mais insuportável Era novembro, devia fazer frio, mas tu Já nem o ar sentias, o próprio sexo Que sempre fora fonte agora apunhalado Um poeta, mesmo solar como tu, na terra É pouca coisa; uma navalha, o rumor De abril podem matá-lo - amanhece Os primeiros autocarros já passaram As fábricas abrem os portões. Os jornais Anunciam greves, repressão, dois mortos na primeira Página, o sangue apodrece ou brilhará Ao sol, se o sol vier, no meio das ervas O assassino esse seguirá dia após dia A insultar o amargo coração da vida No tribunal insinuará que respondera apenas A uma agressão (moral) com outra agressão Como se alguém ignorasse, excepto claro Os meritíssimos juízes, que as putas desta espécie Confundem moral com o próprio cu O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores Como móbil de um crime que os fascistas E não só os de Saló, não se importariam de assinar Seja qual for a razão. E muitas há Que o Capital a Igreja e a Polícia De mãos dadas estão sempre prontos a justificar Pier Paolo Pasolini está morto A farsa a nojenta farsa essa continua