Todos cantam sua terra Também vou cantar a minha! Nas débeis cordas da lira Hei de fazê-la rainha! Hei de dar-lhe a realeza Nesse trono de beleza Em que a mão da natureza! Esmerou-se em quanto tinha Corri pras bandas do sul Debaixo dum céu de anil! Encontrareis o gigante Santa Cruz, hoje Brasil É uma terra de amores Alcatifada de flores Onde a brisa fala amores Nas belas tardes de Abril! Tem tantas belezas, tantas A minha terra Natal Que nem as sonha um poeta E nem as canta um mortal! É uma terra encantada Mimoso, jardim de fada! Do mundo todo invejada Que o mundo não tem igual! Não, não tem, que Deus fadou-a Dentre todas, a primeira Deu-lhe esses campos bordados Deu-lhe os leques da palmeira E a borboleta que adeja! Sobre as flores que ela beija Quando o vento rumoreja Na folhagem da mangueira É um país majestoso Essa terra de Tupã! Desde o Amazonas ao Prata Do Rio Grande ao Pará! Tem serranias gigantes E tem bosques verdejantes Que repetem incessantes Os cantos do sabiá! Ao lado da cachoeira Que se despenha fremente Dos galhos da sapucaia Nas horas do Sol ardente Sobre um solo de açucenas Suspensas a rede de penas Ali nas tardes amenas Se embala o índio indolentes! Foi ali que noutro tempo À sombra do cajueiro Soltava seus doces carmes O Petrarca brasileiro! E a bela que o escutava Um sorriso deslizava! Para o bardo que pulsava Seu alaúde fagueiro Quando Dirceu e Marília Em terníssimos enleios Se beijavam com ternura Em celestes devaneios Da selva o vate inspirado O sabiá namorado Na laranjeira pousado Soltava ternos gorjeios Foi ali, no Ipiranga Que com toda a majestade Rompeu de lábios augustos O brado da liberdade! Aquela voz soberana Voou na plaga indiana! Desde o palácio à choupana Desde a floresta à cidade! Um povo ergueu-se cantando Mancebos e anciãos E filhos da mesma terra Alegres deram-se as mãos Foi belo ver esse povo Em suas glórias tão novo Bradando cheio de fogo "Portugal! Somos irmãos!" Quando nasci, esse brado Já não soava na serra Nem os ecos da montanha Ao longe diziam: Guerra Mas não sei o que sentia Quando, a sós, eu repetia Cheio de nobre ousadia O nome da minha terra! Se brasileiro nasci Brasileiro hei de morrer Que um filho daquelas matas Ama o céu que o viu nascer Chora, sim, porque tem prantos E são sentidos e santos Se chora pelos encantos Que nunca mais há de ver Chora, sim, como suspiro Por esses campos que eu amo Pelas mangueiras copadas E o canto do gaturamo Pelo rio caudaloso Pelo prado tão relvoso E pelo tié formoso Da goiabeira no ramo! Quis cantar a minha terra Mas não pode mais a lira Que outro filho das montanhas O mesmo canto desfira Que o proscrito, o desterrado De ternos prantos banhado De saudades torturado Em vez de cantar suspira! Tem tantas belezas, tantas A minha terra Natal Que nem as sonha um poeta E nem as canta um mortal! É uma terra de amores Alcatifada de flores Onde a brisa em seus rumores Murmura: Não tem rival!