Não sei meu amor, não sei Se os poemas que cantei Algum dia foram escritos Ao cantar cada palavra Parecia que a inventava Na tragédia dos meus gritos Cantei poetas ausentes Cantei os versos das gentes Dos bairros com tradição Desde alfama à madragoa A minha voz foi Lisboa À procura de um pregão As palavras dos poetas Feitas de emoções secretas Têm que ser reveladas E só mesmo quem as sofre É que pode abrir o cofre Onde elas foram guardadas Por isso é que eu te repito Que gostava de as ter escrito Mas sabendo que as cantei A minha alma inquieta Também se sente poeta Não sei, meu amor, não sei!