E se o meu fado fosse um fado revoltado E não quisesse seguir mais o seu condão Que nome dar a este fado indignado Que quer ser fado, não quer ser outra canção Mas este fado queria até ficar na história E ser cantado nas vielas da cidade Que os grandes faias o guardassem na memória E que as guitarras lhe jurassem lealdade Mas a vaidade nunca andou na voz do fado Só é fadista quem lhe sente a condição Se o mouraria não morreu e é cantado É porque nasceu fadado A manter a tradição Quem sabe um dia este meu fado se arrependa E volte a ser o que o destino lhe pediu Pois nasceu fado e será bom que ele entenda Se fado for é porque o fado o permitiu Mas se na alma este meu fado não tiver Amor, saudade, desventura e ilusão Então eu deixo que ele seja o que quiser Que seja um fado revoltado sem paixão Se um coração não lacrimar quando sofrer É como um fado que não chora amargurado Pois se o meu fado não tem mais o que dizer Nada vai acontecer Vai andar sempre calado Mas este fado mais parece ser Narciso Quer estar na moda, ser notícia de jornal É meio sisudo, mas quer dar sempre um sorriso Para aparecer algum evento social Tem a certeza que um dia vai ser famoso E não se esconde como esconde o embuçado Nem quer saber quem foi o Conde Vimioso Nem se a Severa alguma vez cantou o fado Só espero que a vida nunca lhe vá dar razão E que o menor lhe mostre como perdurou O fado é fado nunca cede à tentação Sabe bem dizer que não E honra quem o cantou E se o meu fado fosse um fado revoltado E não quisesse seguir mais o seu condão Que nome dar a este fado indignado Que quer ser fado, não quer ser outra canção