João foi quem contou Quando afundou no mar Diz que ele endoideceu Com o que ele viu por lá Um reino sob o mar Palácio de coral De conchas era o chão O trono era de sal No inclinado convés De um antigo galeão Viu sereias em coro Entoando uma canção Tinham peixes de luz Imitando castiçais E cardumes de cor Se mexiam nos vitrais Quando o cortejo ali chegou De cavalo-marinho a puxar Da carruagem-mãe surgiu O vulto da rainha do mar João se extasiou Não quis acreditar O olho esbugalhou Na luz daquele olhar A moça então ergueu O pescador do chão O sal do mar brotou Dos olhos de João Ele aí se curvou E beijou a sua mão A Mãe d'Água o afagou Junto do seu coração O cortejo formou Pra rainha então passar Ela e seu pescador Rumo ao claro do luar João só lembra que acordou Sentindo o corpo se arrepiar De longe o vulto lhe acenou Sumindo dentro d'água do mar