A pele que tenho em mim não me pertence Digo-me insistentemente Que a pele que tenho em mim não me pertence Isto ao ponto de acreditar Arranho-me Arranco-me e rasgo Quero ser apenas dentro Quero um mundo igual a mim Quero neve no inverno Quero sol no verão Quero a vida Respirar Olhar Sentir Quero ser invisível se me apetecer Quero poder fazer o que me apetecer Podem deixar de olhar? Podes deixar de cair? Pele Sabemos o que temos E isso não impede que a vida não aconteça Caminha-se primeiro em silêncio Abomina-se o sentido da solidão Mas que solidão? Eu sou assim Sou feito de carne e de ossos e de órgãos e de pele Tenho um caminho para além de mim Quero sol no verão Quero a vida Respirar Olhar Sentir Quero ser invisível se me apetecer Quero poder fazer o que me apetecer Podem deixar de olhar? Podes deixar de cair? Pele Tenho o meu caminho Tenho sempre saídas Não há nada que me impeça de viver A pele que tenho em mim também é aquilo que eu sou Também me define Me orienta e me constrói Quero sol no verão Quero a vida Respirar Olhar Sentir Quero ser invisível se me apetecer Quero poder fazer o que me apetecer Podem deixar de olhar? Podes deixar de cair? Pele Se a minha pele me atinge dentro E te atinge fora Algo está errado no mundo Nem eu estou bem Nem tu Mas eu tenho uma razão que é minha E que me ataca o corpo E tu? O que tens tu? Temos um preconceito mútuo Quem o criou? Quero sol no verão Quero a vida Respirar Olhar Sentir Quero ser invisível se me apetecer Quero poder fazer o que me apetecer Podem deixar de olhar? Podes deixar de cair? Pele