No bairro onde moro tem uma mansão Lindo casarão, precisam de ver A sua fachada lembra um palácio Com grades de aço e vidro fumê Erguida no fundo de um grande terreno E não é pequeno o jardim da frente Plantaram grama, grama boiadeira No meio a paineira cresceu imponente Tudo aquilo ali era tão comum Não tinha nenhum fato interessante Aquela paineira linda e majestosa Pintava de rosa a grama verdejante Um carro de boi curiosamente Enfeitava a frente daquela mansão E um homem já velho de cabelos brancos Sentado num banco chamou minha atenção Perguntei ao velho por que é que foi Que um carro de boi foi parar ali Ele então me disse, eu já fui carreiro Nos tempos primeiros, bem longe daqui Com esse carro e a minha boiada Cortava as estradas daqueles sertões Fui desbravador, grande pioneiro Eu já fui carreiro de muitos patrões Os anos passaram, deixaram saudades Minha mocidade ficou tão distante Os meus braços foram fortes como aço E hoje não faço o que já fiz antes Hoje não aguento erguer um cambão Essas minhas mãos não tem mais destreza E ao ver meu carro num canto esquecido Fico aborrecido com tantas tristezas Quando me mudei aqui pra cidade A grande saudade quase me matava Do carro de boi da minha boiada Aquelas estradas quando ele cantava Se eu não ouço mais o seu cantar dolente Nas tardes mais quentes lá do meu sertão Eu trouxe meu carro pra perto de mim Aqui pro jardim da minha mansão