Entre a rosa desfolhada E o espinho que fere a mão Entre a poeira da estrada E a escada sem corrimão Entre a mancha na parede E a falha no vitral Entre o deserto de sede E a montanha de sal Entre o estore avariado E o moscardo na vidraça Entre o cigarro apagado E o veneno na taça Entre a arma que se aponta E a mão que não se estende Entre o mal com que se conta E o bem que não se defende Entre o grito e o segredo Presença tão calculada Entre a loucura e o medo Ausência tão arriscada Entre o disco repetido E o silêncio pesado A mesa de pé partido E o verso de pé quebrado Entre a margem e o fundo Entre mim e tanta gente Entre esta casa e o mundo Entre tanto, tão diferente Em constante recomeço Passa o tempo, muda o espaço Entretanto eu entristeço Mas não cedo no que faço E entre o que não é nada E tudo aquilo que enfrento Há uma rima encontrada Um novo fado que invento