Contemplo da janela a madrugada Os carros vão varrendo as avenidas Perfume de miséria adocicada Que aos poucos embriaga as nossas vidas Contemplo esta saudade rotineira Manchando de vergonha toda a rua A minha própria dor à cabeceira Do tédio a que o meu corpo se habitua E as pombas, guardiãs do cemitério Em que a velha cidade se transforma Com asas de mortalha e de mistério Cinzeiro que do céu todo se entorna Contemplo este compasso de quebranto Entre a vida que passa e a que ficou Contemplo esta amargura que hoje canto Contemplo e já não sei dizer quem sou